sábado, 19 de março de 2016

[História da Educação] A Nova História


A Nova História: A Escola dos Annales como modelo de novas visões historiográficas

Quadro de Salvador Dali - The persistence of memory




No início do século XX inicia uma mudança de foco da História Nacional e Mundial para a História Regional e História Social. Até os dias atuais a História mudou consideravelmente. Antes disciplina de intelectuais especializados, passou a ser objeto de produção de revistas para o Consumo. Essa mudança deu-se pela expansão e fragmentação temática que a mudança metodológica do início do século gerou.
Mas o que é essa nova História que surgiu? Não existe um conceito que delimite o que é a Nova História. Suas qualidades são oposições ao positivismo: 1. Tenta abranger toda a atividade Humana - Por isso o nome HISTÓRIA TOTAL de Braudel. Não se limita ao político. Destrói a tradicional distinção de central e periférico; 2. Passa da Narrativa de fatos para a Análise das estruturas; 3. Da História Vista de Cima para a História Vista de Baixo. História dos Vencedores contra a História dos Vencidos; 4. Novas fontes históricas. Não se atém apenas a documentos oficiais; 5. Mudança de foco de problematização - dos fatos, acontecimentos e tendências. Mudança explicativa. Agora várias possibilidades são conjugadas e não prontas e únicas. Não há causa-efeito mas várias possibilidades; 6. Deixa a História objetiva para uma História que entende irrealista a proposta de objetividade.
PROBLEMAS A SEREM ENFRENTADOS

Problemas a serem enfrentados - Definição - Fontes - Método - ExplicaçãoSíntese.
Problemas de Definição - Inadequação do modelo tradicional. Mas ainda existem vários problemas a serem resolvidos neste novo modelo de fazer História. História dos Ocidentais e História do Oriente - Relações de países africanos e asiáticos simplesmente esquecida, etc. Para uma história vista de baixo é preciso: uma noção ampla de cultura.  Volta ao cotidiano. Retorno ao Social e ao Cultural (sócio-cultural)
Problemas de Fontes - História oral; Evidência de imagens; Estatísticas, etc. Explicação por estórias populares. Imagens pictóricas. Atenção aos objetos físicos e a arquitetura. História quantitativa - Elementos estatísticos - Difícil leitura mas não tanto se comparados com outras fontes oficiais.
Problemas de Método - Repensar a explicação Histórica: Questões de ordem Psicológicas - Estruturas - Questões sociais - Motivação Consciente e inconsciente. Hábito - Definição de Bourdieu.
Problemas de Síntese - Questão da dificuldade histórica em fragmentando-se as disciplinas conseguir sintetizar diversos aspectos da História. O político inserido nos outros temas faz com que a própria idéia de político se dissolva. Dificuldade de síntese. Longe da idéia de História TOTAL de Braudel.

 Outro texto interessante para pensar a Nova História:

LE GOFF, Jacques. História e memória. 2ª ed. Trad. Suzana Ferreira Borges. Campinas: UNICAMP, 1992. (Prefácio pp. 8-16)

O conceito de história parece colocar hoje seis tipos de problemas:

1. Que relações existem entre a história vivida, a história "natural", senão "objetiva", das sociedades humanas, e o esforço científico para descrever, pensar e explicar esta evolução, a ciência histórica? O afastamento de ambas tem, em especial, permitido a existência de uma disciplina ambígua: a filosofia da história. Desde o início do século, e sobretudo nos últimos vinte anos, vem se desenvolvendo um ramo da ciência histórica que estuda a evolução da própria ciência histórica no interior do desenvolvimento histórico global: a historiografia, ou história da história.
2. Que relações tem a história com o tempo, com a duração, tanto com o tempo "natural' e cíclico do clima e das estações quanto com o tempo vivido e naturalmente registrado dos indivíduos e das sociedades? Por um lado, para domesticar o tempo natural, as diversas sociedades e culturas inventaram um instrumento fundamental, que é também um dado essencial da história: o calendário; por outro, hoje os historiadores se interessam cada vez mais pelas relações entre história e memória.
3. A dialética da história parece resumir-se numa oposição – ou num diálogo – passado/presente (e/ou presente/passado). Em geral, esta oposição não é neutra mas subentende, ou exprime, um sistema de atribuição de valores, como por exemplo nos pares antigo/moderno, progresso/reação. Da Antiguidade ao século XVIII desenvolveu-se, ao redor do conceito de decadência, uma visão pessimista da história, que voltou a apresentar-se em algumas ideologias da história no século XX. Já com o Iluminismo afirmou-se uma visão otimista da história a partir da idéia de progresso, que agora conhece, na segunda metade do século XX, uma crise. Tem, pois, a história um sentido? E existe um sentido da história?
4. A história é incapaz de prever e de predizer o futuro. Então como se coloca ela em relação a uma nova "ciência", a futurologia? Na realidade, a história deixa de ser científica quando se trata do início e do fim da história do mundo e da humanidade. Quanto à origem, ela tende ao mito: a idade de ouro, as épocas míticas ou, sob aparência científica, a recente teoria do big bang. Quanto ao final, ela cede o lugar à religião e, em particular, às religiões de salvação que construíram um "saber dos fins últimos" – a escatologia –, ou às utopias do progresso, sendo a principal o marxismo, que justapõe uma ideologia do sentido e do fim da história (o comunismo, a sociedade sem classes, o internacionalismo). Todavia, no nível da práxis dos historiadores, vem sendo desenvolvida uma crítica do conceito de origens e a noção de gênese tende a substituir a idéia de origem.
5. Em contato com outras ciências sociais, o historiador tende hoje a distinguir diferentes durações históricas. Existe um renascer do interesse pelo evento, embora seduza mais a perspectiva da longa duração. Esta conduziu alguns historiadores, tanto através do uso da noção de estrutura quanto mediante b diálogo com a antropologia, a elaborar a hipótese da existência de uma história "quase imóvel". Mas pode existir uma história imóvel? E que relações tem a história com o estruturalismo (ou os estruturalismos)? E não existirá também um movimento mais amplo de "recusa da história"?
6. A idéia da história como história do homem foi substituída pela idéia da história como história dos homens em sociedade. Mas será que existe, se é que pode existir, somente uma [pg. 009] história do homem? Já se desenvolveu uma história do clima – não se deveria escrever também uma história da natureza?

1) Desde o seu nascimento nas sociedades ocidentais – nascimento tradicionalmente situado na Antiguidade grega (Heródoto, no século V. a.C., seria, senão o primeiro historiador, pelo menos o "pai da história"), mas que remonta a um passado ainda mais remoto, nos impérios do Próximo e do Extremo Oriente –, a ciência histórica se define em relação a uma realidade que não é nem construída nem observada como na matemática, nas ciências da natureza e nas ciências da vida, mas sobre a qual se "indaga", se "testemunha". Tal é o significado do termo grego e da sua raiz indo-européia wid-, weid- "ver". Assim, à história começou como um relato, a narração daquele que pode dizer "Eu vi, senti". Este aspecto da história-relato, da história-testemunho, jamais deixou de estar presente no desenvolvimento da ciência histórica. Paradoxalmente, hoje se assiste à crítica deste tipo de história pela vontade de colocar a explicação no lugar da narração, mas também, ao mesmo tempo, presencia-se o renascimento da história-testemunho através do "retorno do evento' (Nora) ligado aos novos media, ao surgimento de jornalistas entre os historiadores e ao desenvolvimento da "história imediata".
Contudo, desde a Antiguidade, a ciência histórica, reunindo documentos escritos e fazendo deles testemunhos, superou o limite do meio século ou do século abrangido pelos historiadores que dele foram testemunhas oculares e auriculares. Ela ultrapassou também as limitações impostas pela transmissão oral do passado. A constituição de bibliotecas e de arquivos forneceu assim os materiais da história. Foram elaborados métodos de crítica científica, conferindo à história um dos seus aspectos de ciência em sentido técnico, a partir dos primeiros e incertos passos da Idade Média (Guenée), mas sobretudo depois do final do século. XVII com Du Cange, Mabillon e os beneditinos de Saint-Maur, Muratori, etc. Portanto, não se tem história sem erudição. Mas do mesmo modo que se fez no século XX a crítica da noção de fato histórico, que não é um objeto dado e acabado, pois resulta da construção do historiador, também se faz hoje a crítica da noção de documento, que não é um material bruto, objetivo e inocente, mas que exprime o poder da sociedade do passado sobre a memória e o futuro: o documento é monumento (Foucault e Le Goff). Ao mesmo tempo ampliou-se a área dos documentos, que a história tradicional reduzia aos textos e aos produtos da arqueologia, de uma arqueologia muitas vezes separada da história. Hoje os documentos chegam a abranger a palavra, o gesto. Constituem-se arquivos orais; são coletados etnotextos. Enfim, o próprio processo de arquivar os documentos foi revolucionado pelo computador. A história quantitativa,, da demografia à economia até o cultural, está ligada aos progressos dos métodos estatísticos e da informática aplicada às ciências sociais.
O afastamento existente entre a "realidade histórica" e a ciência histórica permitiu a filósofos e historiadores propor – da Antiguidade até hoje – sistemas de explicação global da história (para o século XX, e em sentidos extremamente diferentes, podem ser lembrados Spengler, Weber, Croce, Gramsci, Toynbee, Aron, etc.). A maior parte dos historiadores manifesta uma desconfiança mais ou menos marcada em relação à filosofia da história; porém, não obstante isso, eles não se voltam para o positivismo, triunfante na historiografia alemã (Ranke) ou francesa (Langlois e Seignobos) no final do século XIX e início do XX. Entre a ideologia e o pagamento eles são os defensores de uma história-problema (Febvre).
Para captar o desenrolar da história e fazer dela o objeto de uma verdadeira ciência, historiadores e filósofos, desde a Antiguidade, esforçaram-se por encontrar e definir as leis da história. As tentativas mais estimulantes e que sofreram a falência estrondosa são as velhas teorias cristãs do providencialismo (Bossuet) e o marxismo vulgar, que insiste – não obstante Marx não falar de leis da história (como acontece cem Lênin), – em fazer do materialismo histórico uma pseudociência do determinismo histórico, cada vez mais desmentida pelos fatos e pela reflexão histórica.
Em compensação, a possibilidade de unia leitura racional a posteriori da história, o reconhecimento de certas regularidades no seu decurso (fundamento de um comparatismo da história das diversas sociedades e das diferentes estruturas), a elaboração de modelos que excluem a existência de um modelo único (o alargamento da história do mundo no seu conjunto, a influência da etnologia, a sensibilidade para as diferenças e em relação ao outro caminham neste sentido) permitem excluir o retorno da história a um mero relato.
As condições nas quais trabalha o historiador explicam ademais por que se tenha colocado e se ponha sempre o problema da objetividade do historiador. A tomada de consciência da construção do fato histórico, da não-inocência do documento, lançou uma luz reveladora sobre os processos de manipulação que se manifestam em todos os níveis da constituição do saber histórico. Mas esta constatação não deve desembocar num ceticismo de fundo a propósito da objetividade histórica e num abandono da noção de verdade em história; pelo contrário, os contínuos êxitos no desmascaramento e na denúncia das mistificações e das falsificações da história permitem um relativo otimismo a esse respeito.
Isso não impede que o horizonte da objetividade que deve ser o do historiador não deva ocultar o fato de que a história é também uma prática social (Certeau) e que, se devem ser condenadas as posições que, na linha de um marxismo vulgar ou de um reacionarismo igualmente vulgar, confundem ciência histórica e empenho político, é legítimo observar que a leitura da história do mundo se articula sobre uma vontade de transformá-lo (por exemplo, na tradição revolucionária marxista, mas também em outras perspectivas, como aquelas dos herdeiros de Tocqueville e de Weber, que associam estreitamente análise histórica e liberalismo político).
A crítica da noção de fato histórico tem, além disso, provocado o reconhecimento de "realidades" históricas negligenciadas por muito tempo pelos historiadores. Junto à história política, à história econômica e social, à história cultural, nasceu uma história das representações. Esta assumiu formas diversas: história das concepções globais da sociedade ou história das ideologias; história das estruturas mentais comuns a uma categoria social, a uma sociedade, a uma época, ou história das mentalidades; história das produções do espírito ligadas não ao texto, à palavra, ao gesto, mas à imagem, ou história do imaginário, que permite tratar o documento literário e o artístico como documentos históricos de pleno direito, sob a condição de respeitar sua especificidade; história das condutas, das práticas, dos rituais, que remete a uma realidade oculta, subjacente, ou história do simbólico, que talvez conduza um dia a uma história psicanalítica, cujas provas de estatuto científico não parecem ainda reunidas. Enfim, a própria ciência histórica, com o desenvolvimento da historiografia, ou história da história, é colocada numa perspectiva histórica.
Todos os novos setores da história representam um enriquecimento notável, desde que sejam evitados dois erros: antes de mais nada, subordinar a história das representações a outras realidades, as únicas às quais caberia um status de causas primeiras (realidade materiais, econômicas) – renunciar, portanto, à falsa problemática da infra-estrutura e da superestrutura. Mas também não privilegiar as novas realidades, não lhes conferir, por sua vez, um papel exclusivo de motor da história. Uma explicação histórica eficaz deve reconhecer a existência do simbólico no interior de toda realidade histórica (incluída a econômica), mas também confrontar as representações históricas com as realidades que elas representam e que o historiador apreende mediante outros documentos e métodos – por exemplo, confrontar a ideologia política com a práxis e os eventos políticos. E toda história deve ser uma história social.
Por fim, o caráter "único" dos eventos históricos, a necessidade do historiador de misturar relato e explicação fizeram da história um gênero literário, uma arte ao mesmo tempo que uma ciência. Se isso foi válido da Antiguidade até o século XIX, de Tucídides a Michelet, é menos verdadeiro para o século XX. O crescente tecnicismo da ciência histórica tornou mais difícil para o historiador parecer também escritor. Mas existe sempre uma escritura da história.

2) Matéria fundamental da história é o tempo; portanto, não é de hoje que a cronologia desempenha um papel essencial como fio condutor e ciência auxiliar da história. O instrumento principal da cronologia é o calendário, que vai muito além do âmbito do histórico, sendo mais que nada o quadro temporal do funcionamento da sociedade. O calendário revela o esforço realizado pelas sociedades humanas para domesticar o tempo natural, utilizar o movimento natural da lua ou do sol, do ciclo das estações, da alternância do dia e da noite. Porém, suas articulações mais eficazes – a hora e a semana – estão ligadas à cultura e não à natureza. O calendário é o produto e expressão da história: está ligado às origens míticas e religiosas da humanidade (festas), aos progressos tecnológicos e científicos (medida do tempo), à evolução econômica, social e cultural (tempo do trabalho e tempo de lazer). Ele manifesta o esforço das sociedades humanas para transformar o tempo cíclico da natureza e dos mitos, do eterno retomo, num tempo linear escandido por grupos de anos: lustro, olimpíadas, século, eras, etc. À história estão intimamente conectados dois progressos essenciais: a definição de pontos de partida cronológicos (fundação de Roma, era cristã, hégira e assim por diante) e a busca de uma periodização, a criação de unidades iguais, mensuráveis, de tempo: dia de vinte e quatro horas, século, etc.
Hoje, a aplicação à história dos dados da filosofia, da ciência, da experiência individual e coletiva tende a introduzir, junto destes quadros mensuráveis do tempo histórico, a noção de duração, de tempo vivido, de tempos múltiplos e relativos, de tempos subjetivos ou simbólicos. O tempo histórico encontra, num nível muito sofisticado, o velho tempo da memória, que atravessa a história e a alimenta.

3-4) A oposição passado/presente é essencial na aquisição da consciência do tempo. Para a criança, "compreender o tempo significa libertar-se do presente" (Piaget), mas o tempo da história não é nem o do psicólogo nem o do lingüista. Todavia o exame da temporalidade nestas duas ciências reforça o fato de que a oposição presente/passado não é um dado natural mas sim uma construção. Por outro lado, a constatação de que a visão de um mesmo passado muda segundo as épocas e que o historiador está submetido ao tempo em que vive, conduziu tanto ao ceticismo sobre a possibilidade de conhecer o passado quanto a um esforço para eliminar qualquer referência ao presente (ilusão da história romântica à maneira de Michelet – "a ressurreição integral do passado' – ou da história positivista à Ranke  – "aquilo que realmente aconteceu'). Com efeito, o interesse do passado está em esclarecer o presente; o passado é atingido a partir do presente (método regressivo de Bloch). Até o Renascimento e mesmo até o final do século XVIII, as sociedades ocidentais valorizaram o passado, o tempo das origens e dos ancestrais surgindo para eles como uma época de inocência e felicidade. Imaginaram-se eras míticas: idades-do-ouro, o paraíso terrestre... a história do mundo e da humanidade aparecia como uma longa decadência. Esta idéia de decadência foi retomada para exprimir a fase final da história das sociedades e das civilizações; ela se insere num pensamento mais ou menos cíclico da história (Vico, Montesquieu, Gibbon, Spengler, Toynbee) e é em geral o produto de uma filosofia reacionária da história, um conceito de escassa utilidade para a ciência histórica. Na Europa do final do século XVII e primeira metade do XVIII, a polêmica sobre a oposição antigo/moderno, surgida a propósito da ciência, da literatura e da arte, manifestou uma tendência à reviravolta da valorização do passado: antigo tornou-se sinônimo de superado, e moderno de progressista. Na realidade, a idéia de progresso triunfou com o Iluminismo e desenvolveu-se no século XIX e início do XX, considerando sobretudo os progressos científicos e tecnológicos. Depois da Revolução Francesa, à ideologia do progresso foi contraposto um esforço de reação, cuja expressão foi sobretudo política, mas que se baseou numa leitura "reacionária" da história. Em meados do século XX, os fracassos do marxismo e a revelação do mundo stalinista e do gulag, os horrores do fascismo e principalmente do nazismo e dos campos de concentração, os mortos e as destruições da Segunda Guerra Mundial, a bomba atômica – primeira encarnação histórica "objetiva" de um possível apocalipse –, a descoberta de culturas diversas do ocidente conduziram a uma crítica da idéia de progresso (recorde-se La crise du progrès, de Friedmann, de 1936). A crença num progresso linear, contínuo, irreversível, que se desenvolve segundo um modelo em todas as sociedades, já quase não existe. A história que não domina o futuro passa a defrontar-se com crenças que conhecem hoje um grande revival: profecias, visões em geral catastróficas do fim do mundo ou, pelo contrário, revoluções iluminadas, como as invocadas pelos milenarismos tanto nas seitas das sociedades ocidentais quanto em certas sociedades do Terceiro Mundo. É o retorno da escatologia.
Mas a ciência da natureza e, em particular, a biologia mantêm uma concepção positiva, se bem que atenuada, do desenvolvimento enquanto progresso. Estas perspectivas podem aplicar-se às ciências sociais e à história. Assim, a genética tende a recuperar a idéia de evolução e progresso, porém, dando mais espaço ao evento e -às catástrofes (Thom): a história tem todo o interesse em inserir na sua problemática a idéia de gênese -'dinâmica – no lugar daquela, passiva, das origens, que Bloch já criticava.

5) Na atual renovação da ciência histórica, que se acelera, quanto mais não seja ao menos na difusão (o incremento essencial veio com a revista 'Annales', fundada por Bloch e Febvre em 1929), um papel importante é desempenhado por uma nova concepção do tempo histórico. A história seria feita segundo ritmos diferentes e a tarefa do historiador seria, primordialmente, reconhecer tais ritmos. Em vez do estrato superficial, o tempo rápido dos eventos, mais importante seria o nível mais profundo das realidades que mudam devagar (geografia, cultura material, mentalidades: em linhas gerais, as estruturas) – trata-se do nível das "longas durações" (Braudel). O diálogo dos historiadores da longa duração com as outras ciências sociais e com as ciências da natureza e da vida – a economia e a geografia ontem, a antropologia, a demografia e a biologia hoje – conduziu alguns deles à idéia de uma história "quase imóvel" (Braudel, Le Roy Ladurie). Colocou-se então a hipótese de uma história imóvel. Mas a antropologia histórica caminha no sentido contrário da idéia de que o movimento, a evolução se encontrem em todos os objetos de todas as ciências sociais, pois seu objeto comum são as sociedades humanas (sociologia, economia mas também antropologia). Quanto à história, ela só pode ser uma ciência da mutação e da explicação da mudança. Com os diversos estruturalismos, a história pode ter relações frutíferas sob duas condições: a) não esquecer que as estruturas por ela estudadas são dinâmicas; b) aplicar certos métodos estruturalistas ao estudo dos documentos históricos, à análise dos textos (em sentido amplo), não à explicação histórica propriamente dita. Todavia podemos perguntar-nos se a moda do estruturalismo não está ligada a uma certa recusa da história concebida como ditadura do passado, justificativa da "reprodução" (Bourdieu), poder de  repressão. Mas também na extrema esquerda reconheceu-se que seria perigoso fazer "tábula rasa do passado" (Chesneaux). O "fardo da história" no sentido "objetivo" do termo (Hegel), pode e deve encontrar o seu contrapeso na ciência histórica como "meio de libertação do passado" (Arnaldi).

6) Ao fazer a história de suas cidades, povos, impérios, os historiadores da Antiguidade pensavam fazer a história da humanidade. Os historiadores cristãos, os historiadores do Renascimento e do Iluminismo (não obstante reconhecessem a diversidade dos "costumes") pensavam estar fazendo a história do homem. Os historiadores modernos observam que a história é a ciência da evolução das sociedades humanas. Mas a evolução das ciências levou a pôr-se o problema de saber se não poderia existir uma história diferente daquela do homem. Já se desenvolveu uma história do clima; contudo, ela apresenta um certo interesse para a história só na medida em que esclarece certos fenômenos da história das sociedades humanas (modificação das culturas, do habitat, etc.). Agora se pensa numa história da natureza (Romano), mas ela reforçará sem dúvida o caráter "cultural" – portanto, histórico – da noção de natureza. Assim, através das ampliações do seu âmbito,,a história se torna sempre co-extensiva em relação ao homem.
Hoje, o paradoxo da ciência histórica é que justamente quando, sob suas diversas formas (incluindo o romance histórico), ela conhece uma popularidade sem par nas sociedades ocidentais, e logo quando as nações do Terceiro Mundo se preocupam antes de mais nada em dotar-se de uma história – o que de resto talvez permita tipos de história extremamente diferentes daqueles que os ocidentais definem como tal –, se a história tornou-se, portanto, um elemento essencial da necessidade de identidade individual e coletiva, logo agora a ciência histórica sofre uma crise (de crescimento?): no diálogo com as outras ciências sociais, no alargamento considerável de seus problemas, métodos, objetos, ela pergunta se não começa a perder-se.


Exercícios

1) Observe as imagens do filme “Quanto Vale ou é por quilo” e responda:


       
A primeira imagem mostra como era usada a máscara de Flandres para evitar que o escravo comesse ou fumasse em excesso. A segunda imagem mostra uma forma de castigo, também conhecida como ferro de pescoço, instrumento para marcar os escravos fugitivos, servindo mais como um instrumento para marcar o escravo do que como um suplício. No conto “Pai contra mãe” Machado de Assis descreve:

A ESCRAVIDÃO levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber. perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dous pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas (...)” Conto Pai contra mãe. Machado de Assis, 1906.

1. Tendo em vista essas fontes, responda:

a) qual sua espécie?

b) como podem ser utilizadas para contar a História da escravidão no Brasil?

c) Para você, por que alguém contaria a história dos escravos a partir desses instrumentos de castigo? Qual é a motivação de uma história que mostre tais instrumentos?

d) Qual(is) escola(s) (ou perspectiva) histórica(s) poderia(m) contar a história por esse ponto de vista? E qual não poderia contar? Por quê?

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Exercícios de Somatória

A) Assinale as corretas e indique a somatória:
01) Seignobos e Marc Bloch são dois expoentes da Escola de Annales
02) Um dos livros mais famosos da Escola de Annales é o livro “A cidade Antiga” de Fustel de Coulanges. Este livro fala sobre o positivismo.
04) A Escola de Annales surgiu na França, mas influenciou a forma de ver a História do mundo ocidental.
08) L. Febvre e Bloch eram professores da Universidade de Estrasburgo, onde tiveram contato com professores de várias áreas do conhecimento.
16) Os fundadores da escola de Annales tentaram fundar uma revista científica, mas fracassaram pela falta de recursos.
32) Annales é proveniente do prefixo latino An (Negar), nales (Contado). Portanto significa negar o que era antes contato.

B) Assinale as corretas e indique a somatória:
01) Pertencem a primeira fase da Escola de Annales L. Febvre e F. Braudel.
02) Um dos acontecimentos que marcou a vida dos historiadores da Escola de Annales foi a segunda Guerra Mundial.
04) Na Primeira fase da Escola de Annales o objetivo principal era contestar a forma tradicional (positivista) de fazer a História.
08) Para renovar o método de fazer História a Escola de Annales pregava a pureza da Ciência Histórica, evitando o contato com outras disciplinas.
16) Braudel evitava viajar parar outros países. Isso porque considerava a França o único país capaz de desenvolver a História com um olhar crítico
32) A Escola de Annales acabou com a morte de Braudel em 1984.

C) Assinale as corretas e indique a somatória:
01) No livro “O problema da descrença no século XVI: a religião de Rabelais (1942)”, Febvre demonstra como seria impossível se falar de ateísmo no século XVI utilizando da lingüística para argumentar que sequer existiria um sentido próprio para o termo “ateu”, que significava antes herege do que descrente em Deus.
02) No livro “O mediterrâneo na época de Felipe II (1946)”, o principal tema tratado é o rei Felipe II e sua personalidade forte no âmbito da política.
04) Braudel formulou três dimensões de temporalidade: a dimensão factual, a dimensão conjuntural e a dimensão estrutural.
08) A estrutura corresponde aos grandes movimentos históricos, que, por analogia, poderiam ser comparados as grandes correntes marítimas.
16) Braudel considerava que o mais relevante para a História eram as estruturas temporais, ou também chamadas, de longa duração. Por isso, nenhuma fase da Escola de Annales voltou a trabalhar com fatos.
32) Na Micro-história voltou-se a trabalhar com o fato histórico, entretanto com uma perspectiva nova. Pretendia-se trabalhar um fato para se generalizar tendências e entender situações históricas amplas. Assim como “não era preciso conhecer toda a argila do mundo para saber o que era argila”, não era preciso conhecer todos os fatos e acontecimentos históricos para conseguir entender determinado período.

D) Assinale as corretas e indique a somatória:
01) O principal tema histórico para a Escola de Annales era a política. Pois História é a política no passado e a política é a História presente.
02) Para a Escola de Annales seria possível contar a História do Direito através das vestimentas dos operadores jurídicos de cada período.
04) Temas fúteis não têm importância para a Escola de Annales, por exemplo: o odor, as lágrimas ou a noção de higiene.
08) O cotidiano e a cultura são dois conceitos importantes para a Terceira fase da Escola de Annales.
16) Jacques Le Goff, George Duby e Le Roy Ladurie são alguns dos principais autores da terceira fase da Escola de Annales.
32) Braudel acreditava na História Total, ou seja, na História vista através das estruturas e que abarcasse todos os aspectos da História humana.

E) Assinale as corretas e indique a somatória:
01) Assim como “o ogro” que fareja carne humana, o historiador precisa buscar todos os traços de humano em qualquer fonte histórico.
02) O entalhe de um sepulcro e um cuspidor são exemplos de fontes materiais.
04) São quatro os grandes modelos de fontes: materiais, orais, escritas e iconográficas.
08) A História vista de baixo pretende que o historiador deixe de ser um cientista, um historiador universitário abastado, e torne-se um operário, porque somente sendo uma pessoa oprimida o historiador pode sentir o que é a história vista de baixo.
16) A Escola de Annales busca o contexto, ou seja, não explica a história pela vontade individual, mas pelos aspectos gerais existentes. Assim, sem Hitler o nazismo existiria de qualquer forma, podendo no seu lugar estar Hanz ou Dieter.
32) Para Annales não existe verdade absoluta, a história é vista a partir de pontos de vista.