sábado, 11 de agosto de 2012

Noções de Pesquisa Histórica


Noções sobre pesquisa histórica

Capa do livro ZADIG de Voltaire



ZADIG
Voltaire

Cão e Cavalo

(...)
Certo dia, passeando na orla de um bosque, viu aproximar-se um eunuco da rainha seguido de vários oficiais que pareciam tomados da maior inquietação, e corriam de um lado para outro como pessoas extraviadas em busca da maior preciosidade perdida.
- Moço – perguntou o eunuco, - por acaso não viu o cachorro da rainha?
Zadig respondeu modestamente:
- Creio tratar-se de uma cadela e não de um cachorro.
- Tem razão, volveu o eunuco.
- É uma cachorrinha de caça que deu cria há pouco tempo. Manqueja da pata dianteira esquerda e tem orelhas muito compridas.
- Viu-a então? – tornou o eunuco, esbaforido.
- Não – respondeu Zadig, - nunca a vi e nem mesmo sabia que a rainha tivesse uma cadela.
Justamente nessa ocasião, por um capricho muito comum da sorte, o mais belo cavalo das coudelarias do rei fugira das mãos de um palafreneiro para as campinas da Babilônia. O monteiro-mor e todos os outros oficiais andavam atras dele com tanta apreensão quanta a do eunuco atras da cadela. O monteiro-mor dirigiu-se a Zadig e perguntou-lhe se não vira passar o cavalo do rei.
- É o cavalo que melhor galopa – respondeu Zadig; - tem cinco pés de altura e os cascos muito pequenos; sua cauda mede três pés de comprimento e as rodelas do seu freio são de ouro de vinte e três quilates; usa ferraduras de prata de onze denários.
- Que caminho tomou ele? Onde está? – perguntou o monteiro mor.
- Não sei – respondeu Zadig; - não o vi nem nunca ouvi falar nele.
O monteiro-mor e o eunuco ficaram certos de que Zadig tinha roubado o cavalo e a cadela, e levaram-no à presença do grande Desterham, que o condenou ao knut, e a passar o resto dos seus dias na Sibéria. Mal havia terminado o julgamento, foram encontrados o cavalo e a cadela. Os juízes viram-se na desagradável contingência de reformar a sentença, mas condenaram Zadig a pagar quatrocentas onças de ouro por dizer que não vira o que tinha visto. Primeiro ele teve que pagar a multa, e só depois lhe permitiram defender a sua causa, onde falou nestes termos:
Estrelas de justiça, abismos de ciência, espelhos da verdade, que tendes o peso do chumbo, a dureza do ferro, o brilho do diamante e muita afinidade com o ouro: já que me é consentido falar diante  desta augusta assembléia, juro-vos por Orosmade que nunca vi a respeitável cadela da rainha, nem o sagrado cavalo do rei dos reis. Aqui está o que me sucedeu: andava eu passeando pelo pequeno bosque onde depois encontrei o venerável eunuco e o muito ilustre monteiro-mor. Percebi na areia pegadas de animal e facilmente concluí serem as de um cão. Leves e longos sulcos, visíveis nas ondulações da areia entre os vestígios das patas, revelaram-me tratar-se de uma cela com as tetas pendentes, e que, portanto, deveria ter dado cria poucos dias antes. Outros traços em sentido diferente, sempre marcando a superfície da areia ao lado das patas dianteiras, acusavam ter ela orelhas muito grandes; e como além disso notei que as impressões de uma das patas eram menos fundas que as das outras três, deduzi que a cadela da nossa augusta rainha manquejava um pouco, se assim me posso exprimir.
“Quanto ao cavalo do rei, sabei que estando eu a passear pelos carreiros desse bosque, avistei as marcas das ferraduras de um cavalo, todas colocadas a igual distância.  “Eis aqui – disse comigo – um cavalo que tem o galope perfeito”. A poeira das árvores, num caminho de não mais de sete pés de largura, mostrava-se um pouco revolvida à direita e à esquerda,  a três pés e meio do centro da rota. “Este cavalo – tornei a considerar – tem a cauda de três pés e meio, a qual nos seus movimentos para a direita e para a esquerda, varre esta poeira”. Vi depois sob as árvores, que formavam um docel de cinco pés de altura, alguns ramos cujas folhas tinham caído recentemente, e concluí que o animal que as roçara com a cabeça, tendo, portanto, cinco pés de altura. Seu freio deve ser de ouro de vinte e três quilates, pois tendo batido numa pedra que verifiquei ser uma pedra de toque, pude em seguida identificá-lo. Enfim, pelas marcas das ferraduras deixadas em pedras de outra espécie, deduzi que estava ferrado com prata fina.
Todos os juízes admiraram o profundo e sutil discernimento de Zadig; a notícia chegou aos ouvidos do rei e da rainha. Só se ouvia falar de Zadig nas antecâmaras, nas salas e gabinetes; e embora alguns magos opinassem que ele devia ser queimado como feiticeiro, o rei ordenou que lhe devolvessem a multa de quatrocentas onças de ouro a que havia sido condenado. O escrivão, os oficiais de justiça e os procuradores foram a sua casa em grande aparato levar-lhe as quatrocentas onças, das quais apenas retiveram trezentas e noventa e oito para as custas do processo, além dos honorários reclamados pelos servidores.
Zadig compreendeu que às vezes era perigoso ser demasiadamente sábio, e prometeu a si mesmo não tornar a dizer o que porventura houvesse visto.
A ocasião não tardou a apresentar-se. Um prisioneiro de Estado tendo fugido, passou por baixo das janelas de sua casa. Zadig interrogado nada respondeu, mas provaram-lhe que ele havia olhado pela janela. Por esse crime foi condenado a pagar quinhentas onças de ouro, e ainda agradeceu a benevolência dos juízes, como é costume em Babilônia. “Santo Deus! – exclamou ele para si, - quanto é lastimável ir-se passear a um bosque onde passaram a cadela da rainha e o cavalo do rei! Como é perigoso a gente chegar à janela, e como é difícil ser feliz neste mundo!”
Imagem e realidade
"O Grito do Ipiranga", obra de 1888 de Pedro Américo de Figueiredo Mello

INDEPENDÊNCIA OU MORTE" ou "O Grito do Ipiranga" de Pedro Américo (óleo sobre tela, 1888).
O quadro feito em 1888, atualmente no salão nobre do Museu Paulista da USP, é a principal obra do museu e a mais divulgada de Pedro Américo.
O nome original dessa tela é "Independência ou Morte" mas ficou conhecida como "O Grito do Ipiranga".
A tela mede 7,60 x 4,15 m, tratando-se de uma tela retangular que representa a cena de Dom Pedro I proclamando a independência do Brasil. Na tela também aparecem:
  • à direita e à frente do grupo principal, em semicírculo, estão os cavaleiros da comitiva;
  • à esquerda, e em oposição aos cavaleiros, está um longo carro de boi guiado por um homem do campo que olha a cena curiosamente.
Essa obra foi encomendada pelo governo imperial e pela comissão de construção do monumento do Ipiranga, antes que o Museu do Ipiranga existisse, e foi completado em Florença em 1888.
O artista se preocupava em estudar todos os detalhes de seus quadros, como roupas, armas e os tipos físicos das pessoas. Para a produção deste quadro, ele se dirigia freqüentemente ao bairro do Ipiranga para conhecer-lhe a luz, a topografia e outros aspectos.
O GRITO DO IPIRANGA

Pedro Américo de F. Mello (1888)
Uma pintura não é um registro preciso do que aconteceu, mas uma reconstrução simbólica do real. Pedro Américo mudou a cena para que ela mostrasse a importância do evento. Para ele, a Independência é o resultado da ação individual de um herói, e não uma conquista coletiva. Daí a diferença entre seu quadro e o de Moreaux, que mostra d. Pedro no meio do povo.

D. Pedro não montava um cavalo castanho-escuro, mas sim uma "besta baia gateada" _ou seja, uma mula amarelo-avermelhada (burros e mulas eram o meio de transporte habitual para subir a Serra do Mar). Também não vestia uma farda majestosa, mas uma simples "fardeta de polícia". Não havia um carreteiro no local: foi colocado pelo pintor para representar a população, surpreendida pelo fato.

A Guarda de Honra que está na tela ainda não existia nessa época (foi criada por um decreto de 1/12/1822). D. Pedro estava escoltado por guardas voluntários. O pintor usou fardas brancas para aumentar o contraste entre o bloco dos guardas e o dos civis (que usam vestes escuras), o que traz mais dinamismo à tela. Ele ampliou o séquito do regente e reduziu a tropa para equilibrar os dois blocos de figuras.

A colina onde está d. Pedro dista 405 metros do riacho do Ipiranga. O pintor aproximou os dois locais para colocar o príncipe numa posição mais elevada e, ao mesmo tempo, mostrar o riacho que dá nome ao quadro (bem destacado pelas patas do cavalo). A tela está centrada em d. Pedro: o olhar do carreteiro nos leva diretamente ao regente, que é realçado pela disposição dos guardas em semicírculo.

COMO TUDO COMEÇOU
Há quem diga que Pedro Américo plagiou o quadro "1807", de Meissionier. O problema é que o brasileiro queria algo mais imponente que a tela de Moreaux, que destacasse a figura real num momento em que o Império decaía. Por isso, não tinha muitas opções: precisava colocar d. Pedro mais à esquerda, numa posição mais alta, iniciando a ação, e a tropa à direita, reagindo à ação. A estrutura é a mesma, mas composição melhorou. O brasileiro substituiu os cavaleiros (à esq.) por um carreteiro que olha para d. Pedro, dando mais unidade ao quadro. O curioso é que o próprio Meissonier viu uma foto de "O Grito do Ipiranga" no pavilhão do Brasil na Exposição de Paris, em maio de 1889, e gostou. (MAURICIO PULS)

 Friedland – 1807 - Meissionier

Quadro “Independência ou Morte”- 1844 - Renée Moreaux


Pindamonhangaba na Proclamação da Independência
 O célebre quadro do pintor Pedro Américo de Figueiredo e Mello
Arquivo TN
“Ao romper do dia já lá estava a Guarda postada em frente ao palacete em que se tinha hospedado S.A., aguardando suas ordens.    Não partimos pela madrugada, mas saímos cedo. Montava D. Pedro uma possante besta gateada, sendo menos verdadeira a notícia, mais tarde dada pelos jornais de que vinha em ardoroso cavalo da raça mineira.    Em toda viagem mostrava-se SA., muito satisfeito e expansivo . Trazia a seu lado o padre Belchior, com que mantinha animada conversação. Já havíamos subido a serra, quando D. Pedro se queixou de ligeiras cólicas intestinais, precisando por isso apear-se , para empregar os meios naturais de aliviar seus sofrimentos. Observou-nos então que melhor seria a Guarda seguir adiante e esperá-lo na entrada de São Paulo, se antes não fôssemos por ele alcançados. Efetivamente, ali  o deixamos, passando a caminhar como havia sido determinado. Chegando ao Ipiranga, sem que ninguém aparecesse, fiz parar a Guarda junto a uma casinhola que ficava à beira da estrada à margem daquele riacho. Para prevenir qualquer surpresa mandei o guarda Miguel de Godoy Moreira e Costa, que era dos mais moços colocar-se de atalaia em um lugar onde pudesse descobrir a aproximação do Príncipe, para nos avisar com tempo de nos pormos em forma e escoltá-lo à entrada da cidade. Tomando esta providência, apeamo-nos e nos pusemos a descansar, conforme era natural. Pouco tempo, porém, se tinha decorrido quando vimos chegar, dirigindo-se para o nosso lado dois viajantes que logo reconhecemos serem pessoas de consideração. Eram Paulo Bregaro, oficial da secretaria do Supremo Tribunal Militar, e o major Antonio Ramos Cordeiro, que a mandado de José Bonifácio, vinham do Rio apressadamente, procurando D. Pedro para lhe fazer entrega de papéis de muita circunstância que o governo lhe enviava. Não podia este encontro deixar de impressionar a todos, curiosos por sabermos do que era que se tratava. Apesar, porém, dos repetidos e importunos pedidos de informações dirigidos aos emissários, na ocasião nada mais conseguimos saber, senão que ao Rio havia chegado um navio trazendo despachos das Côrtes de Lisboa, dos quais entendeu o Ministro dever dar conta imediata a D. Pedro. Isto tudo se passou em poucos momentos, continuando os viajantes a sua marcha ao encontro de D. Pedro e ficando nós ansiosos por sabermos do motivo que determinara tanta pressa. Enquanto ali nos demoramos, formaram-se vários grupos, onde todos faziam suas conjecturas, procurando cada qual advinhar o que seria.   E é preciso deixar consignado, para honra daqueles rapazes, que embora naquele tempo se falasse muito em desembarque de forças portuguesas nas costas do Brasil, ninguém se mostrou assustado. Poucos minutos poderiam ter se passado depois da retirada dos referidos viajantes e eis que percebemos que o guarda estava de vigia vinha apressadamente em direção ao ponto em que nos achávamos. Compreendi o que aquilo queria dizer, e imediatamente mandei formar a Guarda para receber D. Pedro, que devia entrar na cidade entre alas. Mas tão apressado vinha o Príncipe, que chegou antes que alguns soldados tivesse tido tempo de alcançar a selas. Havia de ser 4 horas da tarde, mais ou menos. Vinha o Príncipe na frente. Vendo-o voltar-se para o nosso lado, saímos a seu encontro. Diante da guarda que descrevia um semi-círculo, estacou seu animal e de espada desembainhada, bradou:
- Amigos! Estão para sempre quebrados os laços que nos ligavam ao governo português! E  nos topes que nos indicam como súditos daquela nação, convido-vos a fazerdes assim...
E, arrancando do chapéu que ali trazia a fita azul e branca, a arrojou no chão, sendo nisso acompanhado por toda a Guarda, que, tirando dos braços o mesmo distintivo lhe deu igual destino.
- E viva o Brasil livre e independente!  
- Gritou D. Pedro, ao que desembainhando também nossas espadas respondemos:
- Viva D. Pedro, seu defensor perpétuo! E bradou o príncipe:
- Viva o Brasil livre e independente!
- Será nossa divisa de ora em diante - Independência ou Morte!
- Por nossa parte, e com mais vivo entusiasmo, repetimos:
- Independência ou Morte! Metendo, então, a espada na bainha, no que ainda foi acompanhado por toda a Guarda, voltou D. Pedro rapidamente o animal para a estrada que vai para São Paulo, e a galope lá foi experimentar as fortes emoções que sua alma de moço devia estar sentindo, vibradas pela incomparável vitória que acabava de alcançar, vencendo preconceitos e interesses de família, afrontando a animosidade de um povo de que estava dependente o seu futuro, só para elevar a nossa pátria à posição de país livre e independente

Fonte: ESPECIAL 500 ANOS. http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_6_2.htm
Nenhum dos dois pintores representou com exatidão os fatos. Pedro Américo, atendendo à finalidade da encomenda, buscou construir a imagem de um herói guerreiro, criador de uma nação. Moreaux, talvez pensando nas revoluções de sua pátria, pintou um líder popular

Os esplendores da imortalidade

JOSÉ MURILO DE CARVALHO
(26/12/1999)

Um pintor de história deve restaurar com a linguagem da arte um acontecimento que não presenciou e que "todos desejam contemplar revestido dos esplendores da imortalidade". Assim escreveu Pedro Américo em texto explicativo sobre o quadro conhecido como "O Grito do Ipiranga", completado em Florença em 1888 por encomenda da comissão de construção do monumento do Ipiranga. A tela tornou-se ícone nacional, representação maior da Independência. O texto descreve o grande cuidado do pintor em reproduzir de maneira exata o acontecimento. Leu, pesquisou, entrevistou testemunhas oculares, visitou o local. No entanto, por razões estéticas, teria sido obrigado a fazer mudanças nas personagens e no cenário a fim de produzir os esplendores de imortalidade.
De início, dom Pedro não podia montar a besta gateada de que falam as testemunhas. O pedestre animal, apesar de ter arcado com o peso imperial, teve o desgosto de se ver substituído no quadro pela nobreza de um cavalo. Com maior razão, prossegue o pintor, o augusto moço não podia ser representado com os traços fisionômicos de quem sofria as incômodas cólicas de uma diarréia. Como se sabe, a diarréia fora o motivo da parada da comitiva às margens do Ipiranga (um irreverente poderia acusar dom Pedro de ter iniciado a poluição do desditoso riacho).
Ocasião de gala O uniforme da guarda de honra também foi alterado. A ocasião merecia traje de gala, em vez do uniforme "pequeno". Finalmente, o Ipiranga teve que ser desviado de seu curso para facilitar a composição do quadro. O carreiro com seu carro de bois, segundo o pintor, entrou em cena para dar cor local, retratar a placidez usual daquelas paragens, perturbada pelo acontecimento. Não aceitou a sugestão de obter o mesmo efeito com uma tropa de asnos, bicho que definitivamente desprezava. O que não impediu que seu carreiro fosse mais tarde objeto da mordacidade de Eduardo Prado, que nele viu o símbolo do povo brasileiro assistindo espantado à cena insólita.
O que Pedro Américo não conta é que seu quadro lembrava muito a tela "1807, Friedland", de Ernest Meissonier, talvez para não reavivar acusação anterior de ter plagiado a "Batalha de Montebelo", de Appiani, em sua "Batalha de Avaí". O quadro de Meissonier, pintado em 1875, refere-se à batalha de Friedland, vencida por Napoleão em 1807.
A semelhança na composição dos dois quadros é muito grande. Em ambos, a figura central, d. Pedro e Napoleão, é colocada sobre uma elevação do terreno, cercada por seus estados-maiores. Ao seu redor, em movimento circular, soldados entusiasmados saúdam com as espadas desembainhadas. A dinâmica das figuras nos dois quadros aponta para o centro ocupado pelo príncipe e pelo imperador. Sobressai em primeiro plano o movimento dos cavalos, cujo desenho exato era obsessão de Meissonier. Nos dois casos, finalmente, nenhuma ambiguidade quanto ao objetivo dos pintores: a exaltação do herói guerreiro.
Pedro Américo também não menciona em seu texto outro quadro sobre o mesmo tema da Independência, executado em 1844, a pedido do Senado imperial, por François-René Moreaux, um pintor francês então residente no Rio. Não se sabe se conhecia o quadro de Moreaux, sem dúvida inferior ao seu em qualidade. O certo é que as duas telas são antitéticas, como observou Maria de Lourdes V. Lyra. Moreaux altera mais radicalmente as figuras e o cenário. D. Pedro monta um cavalo, mas ergue o chapéu em vez da espada. Não está em posição mais alta, cercado de soldados, mas no meio de gente do povo, de mulheres e de crianças descalças que ocupam a frente da cena. O clima é de alegria festiva e não de exaltação patriótica.
Nenhum dos dois pintores representou com exatidão os fatos, como, aliás, querendo ou não o artista, sempre acontece. Mas a distorção tinha finalidades distintas. Pedro Américo, atendendo à finalidade da encomenda, buscou construir a imagem de um herói guerreiro, criador de uma nação. Moreaux, talvez pensando nas revoluções de sua pátria, pintou um líder popular, instrumento de um movimento coletivo que fez a Independência. Duas maneiras de contar a história, duas maneiras de construir a memória nacional. Ironicamente, Pedro Américo, mais fiel do que Moreaux ao que acontecera à margem do Ipiranga, estava mais distante do que o francês do que foi o processo de Independência.
Embora não tivesse havido no Brasil prolongada guerra de independência como na América espanhola, houve sangue derramado na Bahia, Pará e Maranhão. No Rio de Janeiro, foi intensa a participação popular, manifestada sobretudo no episódio do Fico, quando um abaixo-assinado com 8.000 nomes foi entregue a dom Pedro solicitando que permanecesse no país. Para uma cidade de uns 150 mil habitantes, em sua maioria analfabetos, era um número extraordinário.
Desde 1820, data da revolta do Porto, a agitação na capital era constante. Travara-se o que o padre Perereca chamou de guerra literária: centenas de panfletos políticos foram escritos debatendo com paixão os temas do dia: volta de dom João, permanência de dom Pedro, Independência, Monarquia, Constituição. A aclamação de dom Pedro em 12 de outubro, ao voltar de São Paulo, e a sagração a 1º de dezembro contaram com a presença entusiástica de milhares de pessoas no campo de Santana (praça da República) e no largo do Paço (praça 15). O povo do Rio não foi o carreiro de Pedro Américo, esteve mais próximo do povo de Moreaux.

Duas histórias

D. Pedro ficou no Brasil por decisão e a pedido dos brasileiros, povo e elite. Moreaux alterou o grito do Ipiranga para contar essa história. Pedro Américo o alterou para contar outra história. Todos os brasileiros conhecem o quadro de Pedro Américo, guardado no Museu do Ipiranga. Só os especialistas conhecem o quadro de Moreaux, hoje no Museu Imperial de Petrópolis.
Parece útil falar dessas duas maneiras de contar a história do país nestes dias de celebrações, de construção de marcos e monumentos em busca dos esplendores de falsa imortalidade.
Tendo em vista o Quadro “O Grito do Ipiranga” siga os seguintes passos.

A) Identifique o Documento!
a. Descreva a figura (personagens, ambientação, busque pormenores)
b. Resuma o significado da obra.
c. Trata-se de uma fonte primária ou secundária?

B) Analise o Documento
a. Quando a obra foi executada? Busque o contexto
b. Onde a obra foi feita?
c. Quem fez a obra?
d. De quem a obra fala? Qual a ligação do pintor com os personagens representados?

C) Qual sua opinião sobre o documento


Exercícios

1) Observe a fonte histórica a seguir:


Transcrição do Documento.
Lei nº 3.353, de 13 de Maio de 1888.
DECLARA EXTINTA A ESCRAVIDÃO NO BRASIL                

A PRINCESA IMPERIAL Regente em Nome de Sua Majestade o Imperador o Senhor D. Pedro II, Faz saber a todos os súditos do IMPÉRIO que a Assembléia Geral Decretou e Ela sancionou a Lei seguinte:
Art. 1º - É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.

Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.
O Secretário de Estado dos Negócios d'Agricultura, Comércio e Obras Públicas e Interino dos Negócios Estrangeiros Bacharel Rodrigo Augusto da Silva do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1888 - 67º da Independência e do Império.
Carta de Lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o Decreto da Assembléia Geral, que Houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.
Para Vossa Alteza Imperial ver.
Atividade

A) Leia o texto e decomponha seus elementos:
a. identifique as palavras cujo significado pareça difícil ou seja desconhecido (sublinhe-as ou escreva-as);
b. identifique os nomes próprios;
c. pesquise o significado das palavras-chave ou das que você considere importantes;
d. identifique alusões a acontecimentos ou personagens;
e. resuma as idéias essenciais de cada frase ou parágrafo.

B) Analise o documento:
a. quando - O texto é contemporâneo do fato reportado? Qual a situação do momento apresentado no texto?;
b. onde - De qual espaço fala o texto?;
c. quem - Quem é o autor? Seu testemunho é direto ou indireto? Qual a situação de vida do autor?;
d. de quem - De quais personagens fala o autor?;
e· qual a natureza do texto - O texto é destinado a uso público? Se for, qual tipo de documento é: jurídico (lei, relatório, decreto ou constituição), literário (romance ou poema), político (discurso, memória, relato de viagem, entrevista), artigo de imprensa ou anúncio publicitário? Ou o texto é destinado a uso pessoal ou privado? Se for, de qual tipo é (diário pessoal, carta, relatório secreto ou outro tipo de documento familiar)?

C) Opine sobre o documento:
a. procure estabelecer relações entre o conteúdo do texto e seus conhecimentos históricos. Organize sua opinião em duas partes: uma para as idéias do texto e outra para seus conhecimentos e suas opiniões;
b. evite copiar frases ou parágrafos do texto ou fazer resumo;
c. procure evitar a armadilha de opiniões sem fundamento ou sem relação com as idéias expressas no documento.

2) Observe a fonte histórica a seguir:

A primeira missa do Brasil – Victor Meirelles – 1861
Essa obra já esteve em exposição no Museu Oscar Niemeyer (MON) em Curitiba

A) Identifique o Documento!
a. Descreva a figura (personagens, ambientação, busque pormenores)
b. Resuma o significado da obra.
c. Trata-se de uma fonte primária ou secundária?

B) Analise o Documento
a. Quando a obra foi executada? Busque o contexto
b. Onde a obra foi feita?
c. Quem fez a obra?
d. De quem a obra fala? Qual a ligação do pintor com os personagens representados?

C) Qual sua opinião sobre o documento