segunda-feira, 19 de março de 2012

Modernidade e Pós-modernidade

O projeto moderno pode se realizar?

Modernidade

René Magritte - Os amantes (1928)
A Modernidade constitui-se num modelo cultural, modelo europeu-ocidental, ainda  em formação e desenvolvimento (como a longa revolução de Williams) e para alguns em crise e esfacelamento (como a idéia de pós-modernidade). Muitas mudanças ocorreram com o passar do tempo, mas o molde cultural geral em que ainda vivemos é fruto da racionalidade moderna. Essa racionalidade pretende criar pessoas livres e iguais, que participem do sistema social e ao mesmo tempo o legitimem. Pretende criar sujeitos autônomos. Para tanto, os sujeitos precisam ter condições ‘intelectuais’ para exercer essa autonomia. Existem várias reflexões sobre a modernidade e seu projeto. Dentre tantos, dois autores, em especial, sintetizam algumas reflexões.

O primeiro é o professor Sérgio Paulo ROUANET. Para esse autor a modernidade expôs seus ideais, de forma madura, a partir das reflexões do iluminismo. Em síntese, a modernidade caracteriza-se em três promessas.
A primeira seria a do individualismo. Nesse sentido as pessoas não pertencem mais a uma casta social, antes são sujeitos por si só. Em outros momentos da história, anteriores a modernidade, as pessoas não eram consideradas sujeitos individuais, eram apenas parte da estrutura social orgânica. A idéia de indivíduo é construída na modernidade.
A segunda  é a da universalidade. Tal aspecto eclodiu com toda a força nas revoluções burguesas, em especial na revolução francesa. A universalidade é o fundamento para os direitos do homem, direitos humanos. Essa universalidade complementa a idéia de indivíduo. “Todos os indivíduos nascem iguais”. Outros autores utilizam-se a idéia de eqüidade para resumir a valoração igualitária da modernidade.
No projeto da modernidade existem várias formas de se entender a eqüidade e isso se deve a terceira promessa da modernidade, a autonomia. A autonomia se apresenta em diversos espaços sociais: intelectual, político, econômico, etc. Pode-se identificar a autonomia com a liberdade individual. Em relação à autonomia intelectual, considera-se o sujeito capaz, ele ousa saber (como se referia Kant no lema sapere aude! = ousar conhecer!). Todos os sujeitos podem conhecer. Todos os sujeitos pensam, logo existem. Por isso, também são autônomos politicamente, podem escolher seus valores políticos e a forma de concretização da eqüidade. Por fim, todos os sujeitos são autônomos economicamente, são capazes de trabalhar, produzir e consumir (Cf. ROUANET, 1987, 203 e Ss.). Portanto, nos eixos do individualismo, universalidade e autonomia se estrutura a modernidade.


O segundo autor que teoriza sobre a modernidade é o sociólogo português Boaventura de Sousa SANTOS. Para ele existem dois pilares da modernidade. São eles a regulação e a emancipação. A regulação é constituída por três princípios. O primeiro é o princípio do Estado, desenvolvido por Hobbes, o segundo é o princípio do Mercado, desenvolvido por Locke e Adam Smith, e o terceiro é o princípio da Comunidade, caracterizado pela teorização de Rousseau. O princípio do Estado relaciona-se a obrigação dos cidadãos com o Estado e seu jogo de força vertical. O princípio do mercado lida com forças individualistas e antagônicas, onde todos lutam para conseguir o seu espaço no mercado. O princípio da comunidade lida com forças horizontais solidárias, entre membros de uma comunidade e associações. Já o segundo pilar estaria pautado nas três lógicas de racionalidade elencadas por Weber. São elas: a lógica estético-expressiva presente nas artes e na literatura; a lógica cognitivo-experimental presente nas tecnologias e, sobretudo, na idéia de ciência; a lógica da racionalidade moral-prática e do direito (Cf. SANTOS, 2005, p. 50 e Ss.).
Ambas as estruturações teóricas trazem à tona as duas instituições que marcam a modernidade: O Estado Democrático de Direito e o Liberalismo. É possível notar que a idéia de emancipação em SANTOS relaciona-se com a idéia de autonomia de ROUANET. Já em relação à regulação – pautada no Estado, no mercado e na comunidade – expõe-se a tensão entre o indivíduo e o coletivo. Enquanto ROUANET expõe a idéia iluminista de universalidade, SANTOS apresente as idéias de Estado e comunidade. São as três esferas do coletivo em constante tensão na modernidade: universal, estatal e comunitário (local). Em síntese a modernidade aposta em três aspectos como um projeto de humanidade (havia projeto?):

·        Individualização;
·        Autonomia (ou emancipação) do sujeito;
·        Generalização, conjunto de indivíduos iguais (seja como universalismo, nacionalismo ou localismo);

É importante frisar que Boaventura de S. SANTOS não acredita que o projeto da modernidade esteja ligado de forma imanente ao capitalismo. Para ele:

O paradigma sócio-cultural da modernidade surgiu entre o século XVI e os finais do século XVIII, antes do capitalismo industrial se ter tornado dominante nos actuais países centrais. A partir daí, os dois processos convergiram e entrecruzaram-se, mas, apesar disso, as condições e a dinâmica do desenvolvimento de cada um mantiveram-se separadas e relativamente autônomas. A modernidade não pressupunha o capitalismo como modo de produção próprio. Na verdade, concebido enquanto modo de produção, o socialismo marxista é também, tal como o capitalismo, parte constitutiva da modernidade (SANTOS, 2005, p. 49).

No modo de vida desenvolvido na modernidade é possível encontrar significados e valores que constituem e orientam o que Williams denominava de ‘a longa revolução’. São esses mesmos significados e valores que fundamentam a existência da escola e da cidadania. No livro The Long Revolution, Williams explícita que não existe apenas um modo de vida, mas acreditava na formulação de uma cultura comum. Nesse sentido, para combater o que ele entendia como teorias simplificadoras, WILLIAMS esclarece: “Não dispomos de uma genuína experiência comum, a não ser em raros e perigosos momentos de crise. O que nos está isso custando, em toda espécie de moeda, é hoje bem visível. Necessitamos de uma cultura comum. Necessitamos dela não para dispor de uma abstração, mas porque não sobreviveremos sem seu auxílio” (WILLIAMS, 1969, p. 325).

Três grandes áreas
Revolução no campo da política _ Democracia
Revolução no campo da tecnologia _ Ciência
Revolução no campo da informação_ Meios de comunicação

Modernidade: Regulação e Emancipação
Regulação é fundamentada em três princípios

* O primeiro é o princípio do Estado, desenvolvido por Hobbes. [O princípio do Estado relaciona-se a obrigação dos cidadãos com o Estado e seu jogo de força vertical]. “Monopólio da Violência legítima”
* O segundo é o princípio do Mercado, desenvolvido por Locke e Adam Smith. [O princípio do mercado lida com forças individualistas e antagônicas, onde todos lutam para conseguir o seu espaço no mercado].
* O terceiro é o princípio da Comunidade, caracterizado pela teorização de Rousseau. [O princípio da comunidade lida com forças horizontais solidárias, entre membros de uma comunidade e associações].

Emancipação:
Já o segundo pilar estaria pautado nas três lógicas de racionalidade elencadas por Weber. São elas:
1) a lógica estético-expressiva presente nas artes e na literatura;
2) a lógica cognitivo-experimental presente nas tecnologias e, sobretudo, na idéia de ciência;
3) a lógica da racionalidade moral-prática e do direito
(Cf. SANTOS, 2005, p. 50 e Ss.)